Aceitei o desafio proposto a mim pelo amigo Antonielson, titular do melhor e mais acessado portal de notícias da região dos cocais, o Coroatá Online, quando ele soube de minhas pesquisas a respeito da verdadeira história de nossa cidade, o mesmo me fez o convite para escrever em uma coluna e compartilhar o meu acervo com todos os leitores. De início fiquei com medo, pois não sabia que tipo de abordagem teria que utilizar para melhor contar essas histórias.
Foram dias e dias pensando, até que decidi descrever os relatos das pessoas que presenciaram vários acontecimentos da nossa cidade. Nós iremos mergulhar em capítulos bem empolgantes de histórias que precisam ser contatas para que não caiam no esquecimento popular.
Sabemos que Coroatá possui mais de 100 anos de emancipação política e hoje vamos relembrar uma das mais enigmáticas e incríveis histórias que ouvi e presenciei [parte dela] com meus próprios olhos. A história de Dona Anna Jansen Soeiro de Castro Lobo.
No período mais triste do nosso país, o período da escravidão, o Maranhão possuía grande número de escravos, em sua maioria vindo da Angola e Moçambique, entre vários outros locais da África. No porto de São Luís chegavam navios abarrotados de escravos. Neste período o Maranhão era grande exportador de produtos agrícolas, oriundo de grandes fazendas espalhadas pelos 4 cantos do estado.
Em Coroatá não era diferente. Existiam inúmeras fazendas que cultivavam desde o milho, cana-de-açúcar, arroz, algodão entre tantos outros produtos.
Esses produtos eram cultivados na sua grande maioria por escravos, e Coroatá possuía muitas fazendas de “escravos” - existiu também neste período, que tenho que ressaltar aqui para que seja de conhecimento de todos, uma sociedade civil organizada que lutava pela abolição da escravatura, e o movimento aproveitava o período festivo de nossa padroeira para pedir aos senhores de escravos que dessem as cartas de alforria em nome de Nossa Senhora da Piedade, porém esse tema ficará para um outro momento.
A história de hoje é sobre Anna Jansen de Castro Soeiro Lobo. Pois bem, dentre tantas fazendas em Coroatá, existia uma que sempre teve destaque por possuir vários escravos, a fazenda de Dona Anna Jansen, nossa personagem real deste artigo. Conhecida como fazenda Santa Cruz, o local ficava onde hoje é o povoado Santa Cruz, zona rural de Coroatá.
Há algum tempo meu irmão e eu fomos convidados a visitar o local por uma moradora que dizia existir na comunidade vários vestígios da época dos escravos. Apaixonados por nossa história, nos organizamos e fomos ao lugar.
Lá nos deparamos com a simpatia de um povo humilde. Os moradores mantinham vivas as histórias da Senhora de escravos, Dona Anna Jansen. Segundo o que contam, Anna Jansen possuía inúmeros escravos, que a servia dia e noite, porém ela os tratavam com extrema maldade. Um dos moradores relatou que, uma certa vez Anna Jansen recebeu uma visita em sua fazenda e ao mostrar o local ela perguntou para a convidada se a mesma já havia visto “macaco Capelão cair de uma arvore?” Sem entender, a visita respondeu que não, que nunca tinha visto tal situação. Então, a história passada entre gerações, conta que Anna Jansen teria ordenado a um escravo a subir em uma arvore e em seguida teria pego uma arma e atirado nele, só para o vê-lo cair morto ao chão, simplesmente para satisfazer seu ego.
Foram muitas maldades que ela fez com seus escravos ao ponto que quando chegou a falecer, em 31/10/1851, com 58 anos de idade, após ser enterrada na própria fazenda, seu corpo na manhã seguinte estava acima da terra e não mais na cova como tinha que ser. Intrigada, a população local decidiu realizar o enterro outra vez e na manhã seguinte o caixão continuava fora da cova. Como se a terra não a quisesse. A situação só foi resolvida com a chegada de um padre que veio de Portugal para acompanhar o caso. O sacerdote teve a ideia de mandar trazer de Portugal uma tampa de pedra ornamentada com argolas de bronze para que fosse colocada sobre o túmulo de Anna Jansen, mesmo assim a tampa de pedra amanheceu torta, como se o corpo daquela que tanto fez maldades quisesse deixar o lugar. O medo fez com os moradores acorrentassem a tampa com fortes correntes de ferro, só aí a terra nunca mais conseguiu expulsar o corpo da Senhora de escravos.
Nos dias atuais a tampa de pedra, vinda de Portugal, ainda resiste ao tempo. A mesma se encontra no povoado Santa Cruz, no exato local em que foi enterrada Dona Anna Jansen. A comunidade local revelou que, em tempos, a tampa da pedra se move, passando um longo período virada para um lado, e depois um outro período virada para o outro lado. E assim a história vem se mantendo viva até hoje.
Os morados chegaram até a tentar quebrar a pedra no intuito de encontrar ouro, já que Anna Jansen possuía imensa riqueza, e como ela era muito cruel com seus escravos, nunca se sabe se ao ser enterrada sua fortuna também foi junto - esse que vos escreve não tem a menor intenção de descobrir se no túmulo tem ou não ouro. Irei deixar como está, vai que ela desperte de seu sono “eterno”, não quero ser o causador de tal fatalidade.
Recomendo, caros leitores, a visitarem o local e observar com seus próprios olhos a incrível tampa de pedra que foi colocada no túmulo de Dona Anna Jansen Soeiro de Castro Lobo. O local continua preservado pelos moradores do povoado. A pedra faz parte não somente do imaginário local, mas também de nossa história, pois retrata um período que nunca deveria ter ocorrido, mas graças a princesa Isabel e seu decreto de 1888 colocou fim no ato perverso que foi a escravidão.
Por hoje é só. Espero que tenham gostado da história e da maneira com que foi contada.
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