O choque levado pelo adolescente, de 16 anos, que teve os dois braços, a perna direita e parte do pé esquerdo amputados após encostar uma barra de ferro no fio de alta tensão de um poste poderia tê-lo levado à morte, de acordo com especialistas ouvidos. Eles explicaram o efeito e danos que a corrente elétrica, em diversas voltagens, pode causar no corpo das pessoas.
Rafael Ferreira está internado na Santa Casa de Santos, sem previsão de alta médica, desde o acidente, que ocorreu há quase três meses. O menino estava ajudando o pai a desentupir um cano. Com um pedaço de ferro em mãos, o jovem subiu em um muro a uma altura de três metros e, sem notar o fio, encostou a barra na rede elétrica.
"Muitos morrem com o choque nessa intensidade. A criança [Rafael] teve sorte", afirmou o presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV) Armando Lobato.
Segundo Alexandre Shozo, como o ferro é um condutor elétrico, é como se o adolescente tivesse encostado as mãos nos fios de alta tensão. "A corrente elétrica [saiu do poste e] passou por todos os membros [do corpo]", explicou o especialista.
O chão está em 0, sem energia, enquanto todos os fios do poste, as linhas de transmissão de alta tensão, estão em 13,8 mil volts -- esse é geralmente o valor típico . Essa grande diferença de potencial produz uma corrente elétrica mais elevada.
"As mãos estavam em contato com a rede elétrica e os pés com a terra. Portanto, o corpo ficou submetido a aproximadamente 8 mil volts", afirmou Shozo que explicou ainda que o número varia conforme a resistência elétrica do corpo de cada pessoa.
O médico Armando Lobato explicou à equipe de reportagem que, ao receber um choque de alta tensão, a vítima é arremessada para longe da fonte de eletricidade. "Como se voasse", afirmou o médico.
No caso de Rafael, o pai dele José Ferreira, de 60 anos, que trabalha como ajudante de pedreiro, conseguiu impedir que o garoto caísse no chão.
De imediato, segundo o médico, a vítima precisa ser levada para um hospital com Unidade de Terapia Intensiva (UTI). No local, ela deve ser tratada com urgência em um ambiente esterilizado para evitar infecções.
Lobato explicou que o contato com a corrente elétrica pode causar queimaduras na pele. Mas, a maior preocupação é com o impacto nos órgãos, músculos, vasos sanguíneos, ossos e até no cérebro.
"Não é só o problema circulatório da amputação [veja mais abaixo]. Precisamos ver se essa criança não teve lesões no pulmão, rins, fígado e até no osso, além das sequelas cerebrais. Ou seja, é uma coisa mais grave".
Com o choque, Armando explicou que os vasos sanguíneos são queimados e formam coágulos que impedem que o sangue chegue até os membros para fazer com que eles continuem funcionando.
"A pele morreu e nós conseguimos recuperar esse tecido pela circulação de sangue. Mas, ele também perdeu porque não teve sangue para uma criação de novos tecidos. Então, não tem outro jeito a não ser amputar", disse o médico.
De acordo com Armando, a necrose [morte] da pele é fonte de alimento para as bactérias. Por este motivo, o paciente tem mais chances de ter um choque séptico.
Fique por dentro do que acontece em Coroatá, região e muito mais. Siga o perfil do Coroatá Online no Instagram.